terça-feira, 5 de abril de 2016

Sobre ervas daninhas, autismo e desenvolvimento

Você pode matar as ervas daninhas ou fortalecer a grama!

Muitas pessoas que estão tentando cultivar uma grama bonita se dedicam a matar as ervas daninhas. No entanto, apenas matar as ervas daninhas não ajuda a desenvolver uma grama forte! Por meio da fertilização da grama e de ajuda para fazê-la crescer mais forte, o gramado supera as ervas daninhas já que têm menos chances de crescer.

Isto também se aplica às crianças! No começo, a tendência é tentarmos "mudar" nossa criança, nos concentrando em habilitá-la em suas vulnerabilidades e suas fraquezas para torná-la menos "autista". Nós nos concentramos nos aspectos negativos do "autismo", e tentamos "mudá-los”. Contudo, ao nos concentrarmos tanto em seus déficits, muitas vezes, invalidamos nossa criança; involuntariamente comunicando que é defeituosa e precisa ser consertada. Ao nos concentrarmos em "alterar" os seus pontos fracos, muitas vezes não promovemos uma pessoa mais forte. Em vez disso, muitas vezes, enfraquecemos sua identidades e auto-estima.

Do mesmo modo que matar as ervas daninhas não vai necessariamente deixar a grama mais forte, precisamos "fertilizar" os pontos fortes das crianças para torná-las mais fortes. Precisamos promover seus pontos fortes e suas preferências, o que realmente as define, para que desenvolvam seu "verdadeiro eu." Ao usar as suas preferências para promover seus pontos fortes, as crianças vão crescer e se desenvolver até o ponto em que elas possam usar seus pontos fortes para compensar seus pontos fracos. É claro que vamos usar estratégias para compensar problemas sensoriais, ajudar a aliviar as vulnerabilidades de seu sistema imunológico, e prover para que seja saudável. Queremos lhe ensinar habilidades de comunicação, habilidades de vida e habilidades sociais, mas fazê-lo no âmbito da promoção de seus pontos fortes e suas preferências. Ajude as crianças a crescerem em seu verdadeiro potencial. Apoie a criança para que floresça e deixe a flor desabrochar – não tente transformar uma margarida em um rosa!

Todas as crianças, independentemente de suas dificuldades, têm pontos fortes e preferências que definem quem são. Precisamos observar de perto, ouvir e apoiá-las para que se tornem aquilo que o seu potencial vai definir. Isto é verdadeiro para todas as crianças, não apenas para aquelas no espectro. Vamos apoiá-las em sua identidade e ajudá-las a se tornarem quem elas devem ser. Ajude- as a desenvolver seus pontos fortes, e valide os seus interesses para promover esses pontos fortes. Você vai encontrar não só uma maior aceitação, mas também um desenvolvimento mais rápido e uma pessoa emocionalmente mais forte. Concentre-se no potencial, não no déficit, e você vai ver mais potencial!

Da série "Pontos Fortes e Interesses" no livro verde "Autism Discussion Page on Anxiety, Behavior, School and Parenting Strategies”. Para aquisição na Amazon do Brasil (do original em inglês), clique AQUI.

Tradução livre e autorizada pelo autor Bill Nason. Para ler o post original publicado no Facebook em 04/04/2016, clique AQUI.

terça-feira, 8 de março de 2016

O dia em que você elevou suas expectativas

Você já ouviu falar sobre os ratos? 
Originalmente publicado no Blog Speak for Yourself
por Heidi LoStracco

Há um estudo, em que Bob Rosenthal, pesquisador, pegou um grupo de ratos comuns e medianos e os dividiu aleatoriamente em dois grupos. Ele colocou o rótulo "Inteligentes" em uma das gaiolas e o rótulo "Tapados" na outra. Cada grupo, com as etiquetas afixadas, foi entregue a pesquisadores cujo objetivo era ensinar aos ratos a percorrer o mesmo tipo de labirinto.

Eis o que aconteceu: Os ratos que foram rotulados como "Inteligentes" aprenderam a percorrer o labirinto rapidamente. Durante o processo de ensino, os pesquisadores quem estavam trabalhando com eles falaram positivamente sobre seus ratos e ficaram animados com o seu progresso. Por outro lado, os pesquisadores falaram negativamente sobre os ratos "tapados" e os culparam por sua falta de capacidade e seu lento progresso. Os ratos "inteligentes" se saíram quase duas vezes melhor que os ratos "tapados".

Lembre-se, não havia nada de diferente nos ratos.

Rosenthal e seus pesquisadores descobriram que havia diferenças sutis, quase imperceptíveis no comportamento do pesquisadores em relação aos ratos. Pequenas diferenças na maneira que os ratos eram manipulados. Os ratos "inteligentes" foram tratados com mais cuidado e guiados para os caminhos corretos através do labirinto porque acreditavam que eles tinham a capacidade de aprender rapidamente e ter sucesso. Eram vistos como capazes, competentes e valorosos. Essas percepções e expectativas elevadas mudaram a forma como foram tratados. E, mais importante, mudaram seu resultado.

O resultado de um rato foi alterado pela expectativa de uma pessoa sobre ele.


Você provavelmente imagina que eu não estou escrevendo isso porque eu me importo profundamente com os ratos. Ao que parece, esses "efeitos de expectativa" também são vistos em pessoas, particularmente em relação a estudantes. Recentemente, assisti a um podcast sobre esse assunto ("Como se tornar Batman" em Invisibilia). Nele, falam sobre o estudo em ratos por alguns minutos e entrevistam Carol Dweck, um pesquisador de Stanford, que explica que os efeitos de expectativa ocorrem em um continuum. Assim, por exemplo, acreditar que alguém pode voar não vai fazer isso acontecer, mas acreditar que os estudantes são inteligentes, de fato, aumenta o seu QI.

Parece inacreditável, certo? É uma ideia poderosa pensar que podemos mudar alguém por pensar que algo é possível... ou não é possível. Tenha em mente, funciona nos dois sentidos.

Altas expectativas envolvem algum risco. Se temos expectativas, corremos o risco de nos decepcionar. Corremos o risco ter esperanças "altas demais". A beleza das expectativas é que elas são internas. Podemos defini-las tão alto quanto nós queremos, sem colocar pressão sobre ninguém, mas as pessoas vão sentir nossas expectativas em nossas interações com elas. Esperar que um indivíduo com pouco controle muscular e coordenação, disartria grave e incapacidade de controlar de forma confiável o seu corpo vai falar não significa que isso vai acontecer.

No entanto, vamos pensar sobre o que vai acontecer.

Se você tem a expectativa de que as pessoas conseguirão falar, você também terá a expectativa de que elas compreendam o que está sendo dito ao seu redor. Você irá falar com elas, se envolver com elas, explicar o que está fazendo e narrar seu dia. Você as tratará como se esperasse que elas, no fim, se tornem um/a parceiro/a de conversa. Você se decepcionará se eles não começarem a falar? Talvez, mas você pode ajustar a sua expectativa para superar as barreiras que estão impedindo o discurso oral.

Você pode aumentar suas expectativas.

Você pode ter a expectativa de que seus alunos se comuniquem usando comunicação aumentativa e alternativa (CAA). Sim, você teria que elevar suas expectativas a ponto de acreditar que podem aprender a se comunicar usando CAA. Você precisaria ter a expectativa de que esses alunos vão aprender uma nova linguagem, vão lembrar onde as palavras estão localizadas e serão capazes de expressar o que querem dizer com os botões que você lhes deu. Você precisaria ter a expectativa de que podem aprender linguagem e comunicação, sem o luxo de expressão oral. Você precisaria ter a expectativa de que eles têm muito a dizer e estão à espera de alguém para lhes dar as palavras necessárias para que encontrem o caminho para fora de seu labirinto de pensamentos. Você precisaria ter expectativa suficiente a respeito de si mesmo/a para acreditar que você é esse alguém.

Seus pensamentos sobre a capacidade de uma criança ou um aluno afeta o seu resultado, mesmo se você nunca falar deles. Altas expectativas não são o oposto da realidade. Há pesquisas baseadas em evidências: as expectativas moldam a realidade!

Você tem a capacidade de mudar outra pessoa... para melhor ou pior. Mesmo que você acredite que já presume competência quanto ao desempenho de seu(s) usuário(s) de CAA, tenha expectativas maiores. Deixe de lado seu medo de se decepcionar e considere as possibilidades. Mantenha uma expectativa de sucesso quanto a comunicação, relações sociais e amizades, letramento, faculdade, emprego, porque não há um fim conhecido para o continuum do "efeito expectativa". Suas expectativas hoje podem mudar o resultado de alguém. Que hoje seja o dia em que você eleve suas expectativas.

Originalmente publicado em 25 de fevereiro de 2016 por Heidi LoStracco (mestre e fonoaudióloga) no Blog Speak for Yourself AAC  - traduzido e postado com permissão da autora

Tradução livre - Fonte em inglês aqui.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Mais do que Palavras - O Programa Hanen

O Hanen Center, com base no Canadá, conta com mais de 35 anos de atuação na área de intervenção e formação com ênfase no desenvolvimento da linguagem e comunicação de crianças com autismo e outras condições através do Programa Hanen.

Com base no Programa Hanen, disponibilizam um excelente manual para pais - que será, certamente, de grande utilidade a profissionais também. Acessível, esclarecedor e prático, é leitura essencial para quem quer se comunicar e interagir de forma mais efetiva com sua criança, mas não sabe bem por onde começar.

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Mais do que Palavras

Autor: Fern Sussman

Para crianças com Transtorno do Espectro do Autismo, a comunicação é tão importante como para as outras crianças.

No entanto, elas enfrentam desafios especiais, devido ao seu estilo de aprendizagem e preferências sensoriais, o que geralmente torna difíceis a interação e a comunicação.

Felizmente há algumas coisas que tornam mais fáceis para o seu filho todos os tipos de aprendizagem, inclusive aprender a se comunicar.

As idéias deste livro preparam pais para ajudar seus filhos a aprender a interagir e se comunicar, usando situações que ocorrem naturalmente durando o dia.

Para download, acesse o Blog: Autismo - Lição de Vida

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Lagarta vira Papo sobre Comunicação Alternativa

PessoALL,

Recebi o convite da Andréa Werner do blog Lagarta Vira Pupa  para participar de um Lagarta Vira Papo sobre Comunicação Alternativa, juntamente com a minha querida amiga Fausta Cristina Reis, parceira no trabalho do Instituto Autismo & Vida e autora do blog Mundo da Mi e que agora está morando em Londres.

Foi uma experiência muito legal! Deu para compartilhar um pouquinho sobre o que venho aprendendo sobre o tema e também aprender com a experiência das duas. Amei!

Já está no ar para quem quiser assistir tanto no blog Lagarta Vira Pupa quanto no canal da Andréa no YouTube.




domingo, 17 de janeiro de 2016

PECS - o que é?

PECS significa Picture Exchange Communication System, ou sistema de comunicação por troca de figuras, em português. O PECS foi desenvolvido por Lori Frost e Andy Bondy em 1985 especificamente para pessoas com autismo. O PECS consiste em um protocolo de treinamento com base nos princípios da Análise Aplicada do Comportamento (ou ABA) visando ao desenvolvimento da comunicação espontânea e funcional (para fazer pedidos) de pessoas com autismo.

O PECS possui 6 fases:

  • Na fase 1, a pessoa aprende a trocar a figura pelo objeto que deseja.
  • Na fase 2, estimula-se a persistência na comunicação a despeito da distância em relação a um parceiro. Assim, a pessoa aprende a levar a figura do objeto que deseja até a pessoa que pode lhe entregar o item desejado. 
  • Na fase 3, tem início o ensino para que a pessoa comece a discriminar os símbolos nas figuras. Primeiramente, trabalha-se a escolha de um item desejado em relação a outro que não desejado. Depois, incia-se a escolha de um item entre dois itens desejáveis.
  • Na fase 4, é introduzida a organização de frases e a pessoa começa a juntar símbolos - o símbolo de "eu quero..." + o símbolo representativo do item desejado.
  • Na fase 5, a pessoa com autismo é ensinada a responder a perguntas diretas como "O que você quer?" e também são introduzidos símbolos de atributos como cores e tamanhos. 
  • Por fim, a fase 6, a pessoa é ensinada a responder perguntas, bem como a comentar espontaneamente sobre itens, pessoas ou atividades presentes em seu ambiente. Nesse ponto, já pode responder à pergunta "O que você quer?" com "Eu quero ___" e é ensinado também a diferenciar entre as respostas adequadas às perguntas "O que você vê?" e "o que você quer?"

Atenção! Utilizar figuras, fotos e pictogramas não é o mesmo que fazer o PECS. PECS não é sinônimo de usar figuras. PECS é o protocolo de treinamento em si. 

Para maiores informações, consulte a página oficial do PECS no Brasil: http://www.pecs-brazil.com/.